Conta

Por que choras?

a pele tão alva,

tão tenra

Não te cai bem esta lágrima!

Por que choras, então?

Uma dor?

Um pensamento te tangendo a alma a ferro,

sentença de morte aos teus sonhos?

Não vejo...

E por que não vejo além das lágrimas tuas?

Desejo ao menos o gosto agridoce que transpiram teus olhos

e, se possível, entender,

Chegar-me o mais dentro de ti,

mais perto dos teus medos, abrir teus segredos...

Por que choras? Por quê?

Devo amargar esta culpa?

Onde falhei?

Em lacunas não preenchidas,

estradas não seguidas, onde terei eu faltado?

Faltaram histórias? Preces? Orações?

o amor?

Por que choras?

Por que te alcança o pavor, esse vazio,

essa outra vida que te habita mais do que eu?

Teu choro ecoa, aqui dentro

errando de parede em parede,

nas íngremes esquinas do peito:

por que teu choro não é meu?

(Para Lil)