PRENÚNCIO
Cheia de ninguém
A rua estaria.
Folhas de vento sopravam
Varrendo asas de insetos
Sobre os paralelepípedos;
Aos degraus e batentes de portas
Concorriam e sibilavam.
As cores das janelas estavam fechadas
Ao barro da poeira migrante.
Dos pardais que ainda equilibravam-se no ar
Às andorinhas amotinadas num fio da companhia elétrica,
Lições eram extraídas
Para redações de meninos.
Nas salas, as fotografias de azul emolduradas
Observavam seus netos, com olhar circunspecto,
Como a oferecer um trocado para as bonecas de cerâmica,
Para a coleção de carrinhos de metal...
Promessas ainda presentes
De um carinho ausente.
Um rádio a pilha marcava as horas.
Um relógio a corda cantava o tic-tac.
A gaveta da cômoda abriu-se,
Dela saíram cartas abertas,
Seladas com entrelinhas ditosas.
Achou-se tesoura, lâmpada, botão, irmão
De quando dobrara-se a fralda do tempo.
Enclausuradas imagens
Do interior de pessoas
Avessas à emoção,
Vieram junto ao prenúncio
De se semear.
Não soara o trovão.
- Depressão.
Ameaça de chuva,
- Que pena!
Apenas.