Balcão

O mormaço abraça essa espera.

O homem no balcão grita nomes,

mas se vê que anseia silêncio.

Que todas as doenças tivesse fim,

que todos os doentes tivessem fim.

Crédulas mulheres

de cabelos não cortados

e de resignação espessa

citam a quem veneram.

Tornam-o responsável

por suas últimas esperanças.

Alguém quer ser íntimo

da recepcionista mal humorada.

Alguém quer passar à frente,

mas a recepcionista ignora ambos

e, no intimo, sente-se vingada

por suas cotidianas derrotas.

Alguém, no andar de baixo,

geme um grito alto.

Verbaliza a angústia comum.

Um homem novo chega ao balcão

e exibe suas roupas novas

(por que as quis?)

Tantos olhares para tantos vazios.

Não há espaço a preencher,

tudo foi tomado pelo fastio.

Vidas e estilhaços,

excedem-se o cansaços