simplesmente perdi.
(Eu sou um poeta triste que escreve para mascarar a sua dor.
Vivo sozinho em minha mente.
E choro a espera de alguém para me fazer feliz.
Da janela do meu quarto eu sinto o cheiro do capim molhado de chuva.
As gotas da chuva molham meu rosto e pingam formando um 'borrão no papel'.)
Perdi as palavras escritas,
os sonhos abortados,
os gritos garranchados,
as declarações rasuradas,
o desabafo não falado.
Perdi sentimentos, frases, poemas, gente, lembranças.
Perdi momentos.
Perdi uma vida.
Perdi a juventude.
Perdi o gosto doce do amargo.
Perdi a luz da noite.
Perdi o som do silêncio.
Perdi o movimento da fotografia.
Perdi a palma no final.
Perdi o último ato, a última fala.
Perdi o último abraço; o último adeus; o último Deus.
Perdi a última certeza que há antes da dúvida.
Perdi muitas coisas.
Perdi o nascer da morte e o morrer da vida.
Perdi o limo nascer na pedra.
Perdi a água nascer no céu.
Perdi o vento surrar as pernas da moça.
Perdi o pôr-do-sol.
Perdi a lua cheia.
Perdi muitas coisas.
Perdi momentos.
Perdi coisas e momentos.
Perdi sonhos.
Perdi vidas.
Perdi gente.
Perdi muitas coisas.
Perdi, simplesmente perdi.