Poemas feitos
Fiz poemas
Purgando dor e culpa
Fiz poemas
Purgando dúvidas, angústias e
vírgulas.
Pingando medos por meio de sudorese...
Fiz poemas na acidez dos cítricos,
Nas gotas de orvalhos e de lágrimas
De pingos aleatórios trazidos pelos ventos
Fiz poemas
religiosamente
Cumprindo ritual de reza e de redenção
Fiz poemas
Para que as palavras me exorcizassem
Fiz poemas
Agudos repletos de ranger de portas,
Ranger de dentes, de doenças incuráveis
De choro incontrolável,
De dor que sucede a dor maior e
permanece doente.
Fiz poemas em textos jurídicos,
filosóficos,
em crônicas bastardas a rir de tudo e a
não fazer nada...
Em sustenidos e em bemol a desafinar
no compasso dentro do túnel do tempo.
Fiz poemas de
nanismo de idéias, de sentimentos
Que cabiam todos em uma minúscula gaveta
Que tão delicadamente esconde
por de trás dos olhos ou de uma alça
A lágrima que não expurguei
e que está guardada,
A palavra que não pronunciei
A sorte que não tive
Fiz poemas
Tal como a chuva
Que numa rajada indolente
E desastrosa...
segue a lavar tudo
E, a batizar de rimas os
Acasos infantis da fala.
Fiz poemas
E tropecei no verso
Que me caiu feito pedra
Bem no meio dessa
manhã insana.