Poemas feitos

Fiz poemas

Purgando dor e culpa

Fiz poemas

Purgando dúvidas, angústias e

vírgulas.

Pingando medos por meio de sudorese...

Fiz poemas na acidez dos cítricos,

Nas gotas de orvalhos e de lágrimas

De pingos aleatórios trazidos pelos ventos

Fiz poemas

religiosamente

Cumprindo ritual de reza e de redenção

Fiz poemas

Para que as palavras me exorcizassem

Fiz poemas

Agudos repletos de ranger de portas,

Ranger de dentes, de doenças incuráveis

De choro incontrolável,

De dor que sucede a dor maior e

permanece doente.

Fiz poemas em textos jurídicos,

filosóficos,

em crônicas bastardas a rir de tudo e a

não fazer nada...

Em sustenidos e em bemol a desafinar

no compasso dentro do túnel do tempo.

Fiz poemas de

nanismo de idéias, de sentimentos

Que cabiam todos em uma minúscula gaveta

Que tão delicadamente esconde

por de trás dos olhos ou de uma alça

A lágrima que não expurguei

e que está guardada,

A palavra que não pronunciei

A sorte que não tive

Fiz poemas

Tal como a chuva

Que numa rajada indolente

E desastrosa...

segue a lavar tudo

E, a batizar de rimas os

Acasos infantis da fala.

Fiz poemas

E tropecei no verso

Que me caiu feito pedra

Bem no meio dessa

manhã insana.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/04/2010
Reeditado em 14/07/2018
Código do texto: T2204171
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