Cortina.

A janela,

embora aberta,

tem uma cortina

que a separa do dia.

Seus panos de algodão,

todos enfeitados,

cumprem a sua função,

não desvendar o cotidiano.

Sigo de bem comigo,

em disciplina, em abrigo,

ao parapeito assisto

pessoas que vem e que vão.

Rostos e corpos fechados,

descaso, barulho, confusão,

não há roteiro para sentimentos,

nem sentimentos para doação.

Dentro da minha cápsula,

na penumbra da minha neblina,

vivo em paz minha rotina,

volto a cerrar a cortina...