Destino Displicente

Há momentos em que a gente fica

Mesmo de coração partido

Desolado, sem sentido, falho de acepção

Sem saber que direção tomar

Algumas vezes o caso é bem mais complicado

E o cerne vital se transforma em estilha

Fatalmente dilacerado

Sem abrigo, sem acolhida

Ou espaço que o comporte

Sem sul, sem norte

Sem estadia em qualquer lugar

É tão prosaica essa circunstância comum

Incomum é o pêndulo oscilante do tempo

Advir à batida

Consonante com a vida, que perpassa

Sem um sentido que se lhe apraza

E então, os olhos são brasas molhadas

Esvaindo-se suavemente, sal adocicado

Muitas vezes quando chegamos já é bem tarde

E o destino já é sentença

Pelo envolto no sacro consagrado

Sem possibilidade de volta

E isso incisa definitivamente

Uma alameda que se acendia

Ainda que parecesse em flor

Outras vezes é demasiadamente cedo

Não se tem idade, se tem medo

E as palavras ainda não estão prontas

Precisam ganhar vida, ganhar cor, amadurecer

Se não ditas, deixam de ser bem ditas, no amor

Quando a sorte, distraída, displicente

Lacra seus olhos, emudece seus lábios

E não consede

O acontecer

AndreaCristina Lopes
Enviado por AndreaCristina Lopes em 14/04/2010
Reeditado em 23/11/2010
Código do texto: T2195628
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