LÁGRIMAS DE MÃE

Observava a filhinha com lágrimas nos olhos,

dando os primeiros passos, querendo flutuar,

na ponta dos pés, insegura, balançando,

querendo prosseguir, quase tropeçando,

um sonho talvez, povoando sua cabeçinha,

pois menina pobre, morando em favela,

confessava à mamãe que iria ser bailarina.

Pedia sapatilhas para os pézinhos calçar,

pois as feridas que machucavam iam surgindo,

no chão de terra batida revestido de areia,

sem a maciez dos tapetes de academias,

onde outras crianças exerciam seus fascínios,

roupinhas justinhas para realçar suas graças,

e cabelos com gél para não haver desalinhos.

Vinham depois as perguntas para sua mamãezinha,

quando seria que poderia aprender a dançar,

junto com outras crianças que olhava fascinada,

deslizando suaves ao som de músicas tão lindas,

e na ponta dos pés já pareciam ter afinidades,

com os sonhos que também um dia tiveram,

e flutuavam como passarinhos alçando seus vôos.

Lágrimas de mãe que jamais os sonhos realizará,

para a filhinha tão amada e sua única riqueza,

diante de todas as misérias que juntas sofriam,

sem o amparo pelo menos de um pai ausente,

pois de uma aventura talvez inconsequente,

quem sabe de um amor que também sonhava ter,

nasceu então Juliana sua razão maior de viver.

11-04-2010