Desencanto ( Por Manuel Bandeira )
Eu faço versos como quem chora,
De desalento, de desencanto.
Fecha o meu livro se por agora,
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue, volúpia ardente,
Tristeza esparsa, remorso vão.
Dói-me nas veias amargo e quente,
Cai gota-a-gota do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios, a vida corre.
Levando um acre sabor na boca,
Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira
*Recife 19/04/1886 ------- +Rio de Janeiro 13/10/1968