É assim, repentina, imprevisível
Um olhar que seja, descuidado, para dentro
Um estar sozinho e em silêncio, vulnerável
No improvável de um provável pensamento
Em um momento introspectivo e súbito
Ela vem de mansinho e se instala
E quando você grita, ela se cala e se esconde
E não sei onde, ela fica latejando
Como uma espécie de dor que existe apenas
Apenas existe só para doer e se disfarça
No meio dessa farsa que parece que é viver
Que é o que parece que tem de ser
Quando não tem de ser o que parece

E no meio da sala você para
Há um farfalhar de não sei o que
Um poema que se perde
Uma imagem que se esquece
Um pressentimento que ressoa
No inevitável dos sentimentos
Uma fuga de uma parte de si
Uma lembrança a voar para bem longe

Estará bem quem eu amo?
E quem me ama me amará amanhã também?
E será vã mais essa longa madrugada
A procura de nada no meio de nada
Nessa arrumação inútil das gavetas
Nesse ato absurdo de colocar no lugar
Todas as coisas que vivem fora do lugar
E no impensável de não ter um lugar
Onde largar as coisas que não mais se quer
De querer desejar as coisas que não se quer
Se quiser querer as coisas que deseja

É a vida ela mesma, diriam os mais sábios
As feridas que cicatrizam deixam marcas
E somos marcados mais pelo que fomos
Do que pelo que tanto somos e ninguém percebe
É assim de ser cicatrizes as tolas lembranças
Na desesperança dos que nos olham
Querendo ver o que não viram nem nunca verão
A certeza de todas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 05/04/2010
Reeditado em 08/08/2021
Código do texto: T2177913
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