Réquiem para um violino triste

O que fazer quando as esperanças te abandonam sem avisos?

O que dizer a quem espera palavras de conforto de seus lábios?

Como sorrir quando a dor toma conta de seu olhar?

Como verbalizar essa angústia que tanto o atormenta?

Nessa estrada todos pedem carona para o céu,

Esperam o melhor a cada esquina e o sol após a chuva,

Desejam a acolhida de um abraço fraterno que aqueça o coração,

Imaginando espantar a solidão que habita suas vidas...

Como viver sem a perspectiva de transformar a realidade?

O que dizer quando só parece restar essa amnésia interior?

Quando as fantasias deixam de se materializar no mundo real

Os sonhos perdem sua dimensão mágica com os olhos abertos

E uma alma destroçada elimina as chances de se reconstituir...

Gostaria de dizer que essa fase depressiva está aprisionada num segundo,

Que o sorriso do herói retornará ao final da batalha contra o mal,

Que não existem finais onde os mocinhos não sejam os vencedores,

Mas a verdade desconstrói esse castelo de cartas tão bem armado,

Discursos viram palavras soltas ao vento numa tempestade de lágrimas...

Não há tango para um dançarino solitário num salão escuro,

O piano desafinado trava suas teclas e recusa-se a tocar essa canção,

Porque a melancolia não produz uma melodia que encante os apaixonados,

Somente um solo triste de sax ecoa na mesa do bar onde um bêbado resiste...

Triste ópera num sábado frio em que a audiência muda recusa-se a aplaudir,

Réquiem de um concertista que perdeu seu dom de tocar Bach ao violino,

Imagem sem movimento gravada no concreto cinza de uma rua vazia,

Onde a fogueira arde sem esquentar os habitantes das sombras noturnas...

Não avisaram à tristeza sobre o encerramento do ato com o cair das cortinas,

E agora ela se faz mais presente que a protagonista da peça anunciada,

Nesse teatro de comédias trágicas que representamos diariamente,

É a derrocada de realizações que deslizam morro abaixo na ladeira da vida...