Adeus, Inspiração!
Este é o derradeiro fim,
O coração do poeta está mudo;
O gosto amargo não é veneno, nem gim,
É a desilusão penetrando profundo.
A lua, inspiradora, perdeu seu encanto;
Escondeu-se a fim de não ser testemunha
Daquele que agora derrama seu pranto,
E infeliz desgraçado é sua lúcida alcunha.
O negrume de seus olhos,
Outrora pérola de rara beleza,
Me lembram agora secos galhos
Que, mortos, exalam um que de tristeza.
A inspiração, que tu levaste
Saindo assim de minha vida
Provoca em minha alma desgaste,
Tal qual o alcoólico sem a bebida.
Se um dia quiseres voltar
E devolver-me o feixe inspirador,
Como Tântalo hei de tentar
Alcançar teu beijo consolador.
Por hora, simplesmente caminho
Apesar do excesso de veneno no coração.
E por só enxergar da flor o espinho,
Eu digo, infeliz: Adeus, Inspiração!