Pai Ausente

Era manhã de domingo...
A nuvem branca de crianças felizes
que se acotovelavam nos bancos da igreja
cantavam alegres e desafinadas
Hino de louvor a Maria, ensaiado tantas vezes...
mas você não estava lá...

Alguns anos se passaram
novamente eu me vi no meio de gente feliz
cujos pais assistiam emocionados
a entrega do pseudo-diploma de colegial
parecíamos doutores em nossas roupas engomadas
alguns sorrisos, algumas lágrimas...
mas você não estava lá também...

Eu segui em frente, às vezes contente
outras vezes não, faltava-me algo ao coração
pessoas se empenhavam em me compensar
da ausência que me doía tanto
porque sempre, em todo lugar
você não estava lá...

Fui o orgulho da minha mãe naquele clube
era a formatura, dessa vez de verdade
eu terminara a faculdade, e tão feliz
desfilei meu vestido alugado, bem cortado
parecia uma rainha com meu cetro de ouro maciço
mas perdi um convite mandando a você, porque...
você não estava lá...

Eu ia me casar... e dessa vez esperei
ansiosamente, alegre e contente
você disse que sim, que faria esse carinho pra mim...
não deu pra confiar, arrumei outro pai para o seu lugar
e foi sorte, porque eu me odiaria até a morte
se mais uma vez, tivesse me deixado enganar, porque...
você não estava lá...

Mas mesmo assim, pai
eu fui ter com você um dia
emprestei-lhe o meu ombro
onde você chorou... logo eu
que chorei tantas vezes sem ter o seu ombro
não escondo, foi triste meu pai...

Mas agora eu sei onde você está
Deus o levou...
não guardo mágoa ou rancor
mas por favor,
pai...
não me peça pra lhe ter amor!

Santos, 15.07.2006_01:30 hs