DESPEDIDA

Quando os olhos fecho em breu,

Firo a alma enquanto acalmo minha carne.

Há quem chore, mas não chora como eu,

Que oculto um grito grave sem alarde;

Tantas lágrimas rolaram sem pesar,

Como tolo e enfraquecido me entreguei.

Muita gente triste chora sem cessar,

Só não chora como um dia eu chorei;

Choro fome, sede, raiva e desconsolo,

Todos quase sempre são muito formais.

Não há regato no compasso desse choro,

Tal qual estouros nos sinos das catedrais;

Meus fantasmas rondam a aurora deste dia

E de alegria sinto lágrimas rolarem.

Ouço harpas numa imensa sinfonia

E em harmonia vejo querubins cantarem;

Choro sim, conforme chora o sabiá,

Pelos campos verdejantes desta vida.

Choro assim porque não aprendi cantar,

Pelo triste e amargo ardor da despedida.