Estar
Vi, com esses olhos que a terra há de comer ...
o Homem que o Câncer comeu.
Logo serei eu
e alguém dirá: vi com esses ...
Cavalguei o branco Ginete,
pintei faixas de Natal em azul faillet,
misturei pimenta com cipreste,
lutei contra a Ditadura do Gal. Croquete
e dormi com a balzaquiana coquete.
E até amei uma heroína
que se foi em morte feminina.
De tudo fiz. Mas acho que errado,
pois o Destino me pisa com bota de soldado
enquanto eu sonhava só ter estado.
Saudade da moça da beira do mar,
tempo último que declamei amar.
Ressinto saudade do que já chamei de Lar
e daquilo, filho, que cantava para ti ninar.
Esse silêncio no ar,
antecede o tumular.
A náusea e a vertigem,
como um soco me atinge.
Do leito, o Céu parece mais distante,
mas sussurram que a passagem é só um instante.
O escuro é chegado,
envolto no breu
ainda penso que um dia fui eu.