queda do poeta

um estrondo na madrugada

que desperta a alma num susto sublime;

não restam dúvidas: o poeta despencou de seu pedestal.

ele tentou arquitetar o sonho mais perfeito

modelando sua obra na altura celestial

sob o risco de uma queda sem volta;

"o sonho era perfeito demais,

valia cada impulso de risco".

agora, ao chão,

ele se lembra com carinho do que modelara em sua mente

e sente escorrer uma lágrima triste

que revela a impossibilidade de fazer real

aquela imagem perfeita arquitetada em sua mente.

e chora, porque todo poeta sabe chorar,

com o peso de não mais ter tal obra próxima.

ele sabe que é hora de largar os vícios,

desprender as almas afetadas pelo sonhar,

e deixar o tempo falar por si

assim, sem planos.

o silêncio que ficou naquela tarde

não era nada além de uma tentativa

de guardar o melhor que existiu de tal obra.

um silêncio extremamente doloroso para quem perde o compasso da valsa...