À minha Dor

O relógio acusa três da madrugada

Os gatos boêmios brigam

Acima do telhado seus miados ferozes irrigam

No peito, a minha Dor coagulada

Meu rosto transfigurado em desespero

Afoga-se em grossos fios de lágrimas

Que emanam de minhas condições ínfimas

E respingam sobre meu desejo derradeiro

Numa convulsão que me conforta

Agarro-me na ponta dos dedos

Para não afundar no oceano dos medos

Que aos povos, batem a minha porta

Tomo um curto gole d’água

Que me desce o esôfago como serragem

Despertando minha fera selvagem

Presa aos grilhões da mágoa

Essa briga felina acima de mim

Aflora-me uma rebelião esquizofrênica

Consumindo numa dinâmica endotérmica

A minha fé quase no fim

Os estilhaços de minha alegria oca

Afundam numa descrença densa

Suscitando essa dor imensa

Cuja gargalhada me provoca

Mas de repente, sem motivação

Alguma passo a rir da minha Dor

E de súbito recobro meu ardor

Para lançar minha proclamação:

Ó Dor que me persegue

Eu superarei meu trauma,

E essa hemorragia na minha alma

Estancará, mesmo que não te negue!

Pois tu és um mero parasita

E eu é que sou teu hospedeiro

E se dos dias, este for meu derradeiro

Cessará essa condição que me irrita

A minha seiva apodrecerá

Meu cadáver te será improdutível

Você achará teu braço comestível

E no próprio sangue te afundará!

Marcos Paulo Silva
Enviado por Marcos Paulo Silva em 19/02/2010
Código do texto: T2094667
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