Meu vigésimo quarto aniversário
Tediosa quarta feira, dia execrável
Tristemente eu olhei o calendário
E bem ali constatei o inevitável
Naquele dia eu fazia aniversário
Quando criança isto me alegrava
Ao amanhecer, abria os olhos e sorria
Mesmo quando muito cedo me acordava
Acima de tudo, dos pesares, aquele era meu dia
Hoje, já me pesam os anos corridos
Mesmo que não sejam tantos
Sinto que foram bem vividos
Mas excessivos já me são os desencantos
Não me satisfazem mais os simples prazeres
Trava-me na boca o mais doce alimento
Insuportáveis tornaram-se os afazeres
Dos quais retiro o meu sustento
Perdi de vista a dona dos meus amores
Escapou pelos meus dedos, definitivamente
Já não consigo suportar tantas dores
Não desejo mais viver, com meu amor ausente
Sorriem-me os mais velhos escarnecendo
Como se fosse impossível ou leviano
Alguém tão jovem viver sofrendo
E não desejar completar mais um ano
Diante deles, rasguei o meu diploma
Reneguei meus ancestrais e o meu nome
Entreguei -me a este câncer, este sarcoma
Esta melancolia que lentamente me consome
Compreenderiam-me os poetas em que me espelho?
A maioria deles morreu em tenra idade.
E diante de seus livros agora eu me ajoelho
Ansiando que me aplaquem esta saudade
Que me fez jovem de corpo e velho de alma
Que me faz arder com a impossibilidade desta paixão
Que me tirou a vontade de viver, a sanidade e a calma
Que me faz desejar repousar em um caixão