Trágico
Sou uma sonata triste de um violino solitário
Tocando na escuridão de um teatro vazio
Sem audiência ou aplausos ao fim de cada ato
Ecoando em paredes rachadas pelo tempo
Sou esses passos desencontrados de tropeços
Caindo em si mesmo a cada esforço para caminhar
Pesados como chumbo no concreto frio
Dilacerando partes de mim mesmo a cada pegada
Sou o último suspiro antes de uma parada cardíaca fulminante
Não há aparelhos que possam ressuscitar quem não quer viver
Não existem preces para almas que desistem de si mesmas
Contemplo minha infelicidade com um sorriso sarcástico
Sou esse caco de espelho quebrado esperando os anos de azar
Fechando os olhos para meu reflexo partido em estilhaços
Cortando-me em mim mesmo para sangrar infinitamente
Numa dor sem cura ou cicatrização desse espírito perdido
Indiferente ao medo ou as mãos que se estendem em minha jornada
Nada mais importa além do vislumbre de um possível fim
Mas este permanece num horizonte tão distante
Intocável como a chance para dar a volta por cima
Nesse momento só desilusão e desapontamento encontram espaço
Ser incapaz de mudar meu próprio destino nessa arquitetura gótica
Sou uma marionete na tragicidade dos acontecimentos
Óperas ainda entoarão meu triste drama de separação
Analgésico algum pode amenizar a pancada dessa vida sem avisos
A quem gritar por salvação quando é na perdição que me desfaço?
Como procurar a luz de um farol com olhos cegos numa tempestade infinita?
O que fazer quando não se tem mais expectativas de um porvir?
Sigo assim...apenas por seguir, automático, inexplicável, incompreendido.
Só o vento por companhia nesse trajeto de terra árida e sol escaldante.