Nunca mais voltei:

Na minha varanda

tem uma rede de dormir

abandonada já faz tempo

ninguém mais dormiu nela

desde o dia, em que ela partiu.

só me deixando por herança

esta rede que um dia foi o ninho

de um amor, vivido intensamente.

tendo por testemunha o luar

e o brilho das estrelas nas noites

quentes de verão que ali passamos

hoje aquela varanda virou tapera

a velha rede castigada pelo rigor

do tempo e o vento pouco resta

como aquela varanda, hoje coberta.

pelos restos de velhas lembranças

e folhas mortas espalhadas pelo chão

no nosso jardim nenhuma flor restou

por ali tudo foi morrendo devagarinho

como morreu nosso amor naquele dia

que ela foi embora sem dizer adeus

abandonando tudo que ela dizia amar

foi assim que ela partiu, eu quase morri.

de dor e tristeza um dia também parti.

naquela varanda nunca mais voltei.

vovonei

Porto Seguro

1985