Necessidade, ou qualquer coisa como...
É preciso se recompor
pegar o suborno e guardar no canto
escuro da carteira, onde ninguém possa olhar;
É preciso se recompor, limpar as janelas
Olhar o vidro atrávez de uma retina:
Transparente; E se inclinar pra baixo
- Sem cair - Ouvindo o som morto da rua.
É preciso recorrer às redondezas e
Esquecer que tanto o tabaco como o sol fazem mal,
E a vida não passa de um pedaço colorido da morte
Que não se consegue alcançar a plenitude sentado;
É preciso recorrer aos movimentos, às violencias,
aos voos mais altos que os de Ícaro, sem jamais
Deixar levar-se pela corrente inversa ao chão,
Pois os pés têm de estar cravados e serem firmes
Enquanto caminham por núvens de concreto e barro;
Pois é preciso recorrer ao etéreo para suportar os dias
Que de mais sólidos se fazem prédios e doença,
Coisas que atacam de dentro para fora, e sufocam...
Sem expectativa de virtude. Tal como os anjos...
É preciso quebrar os vidros, e deixar que as putas corram...
É preciso ser mais esdruxulo que as manhãs,
Que a baia de Guanabara, que o rio que cruza a cidade...
- Pequena- E que guarda tristezas mais vãs que a claridade
E ainda assim, se faz ser preciso algo mais.