Necessidade, ou qualquer coisa como...

É preciso se recompor

pegar o suborno e guardar no canto

escuro da carteira, onde ninguém possa olhar;

É preciso se recompor, limpar as janelas

Olhar o vidro atrávez de uma retina:

Transparente; E se inclinar pra baixo

- Sem cair - Ouvindo o som morto da rua.

É preciso recorrer às redondezas e

Esquecer que tanto o tabaco como o sol fazem mal,

E a vida não passa de um pedaço colorido da morte

Que não se consegue alcançar a plenitude sentado;

É preciso recorrer aos movimentos, às violencias,

aos voos mais altos que os de Ícaro, sem jamais

Deixar levar-se pela corrente inversa ao chão,

Pois os pés têm de estar cravados e serem firmes

Enquanto caminham por núvens de concreto e barro;

Pois é preciso recorrer ao etéreo para suportar os dias

Que de mais sólidos se fazem prédios e doença,

Coisas que atacam de dentro para fora, e sufocam...

Sem expectativa de virtude. Tal como os anjos...

É preciso quebrar os vidros, e deixar que as putas corram...

É preciso ser mais esdruxulo que as manhãs,

Que a baia de Guanabara, que o rio que cruza a cidade...

- Pequena- E que guarda tristezas mais vãs que a claridade

E ainda assim, se faz ser preciso algo mais.

R Duccini
Enviado por R Duccini em 14/01/2010
Reeditado em 11/02/2010
Código do texto: T2028902