Estou só
Estou só
As sombras da noite caindo encobrem as indecentes chagas da minha solidão.
Um lençol de lágrimas quentes oculta meus olhos, ausentes da luz de teu olhar.
O som do torturante silêncio envolve meu corpo febril – como é doído pensar!
Vejo tua sombra em cada esquina, tua cálida voz presente em minha imaginação.
Os dias se arrastam gelados, parecem sentir falta daquele nosso preguiçoso modo de caminhar
Mais conversando que caminhando, olhos nos olhos pregados, esticando as avaras horas.
Apago centenas de escritos, incapaz de verbalizar meu grito – essa apatia que me apavora.
As palavras fogem de mim, cansadas; as paredes se escondem – não querem mais me escutar.
Só me resta conversar comigo, entender os meus medos, repensar essa angústia sofrida, pesada – escura como um dia sem sol.
Parceira indesejável, companhia de longos anos, tantos que já não me dou ao trabalho de contá-los.
Não sei responder minhas complexas questões; enredo-me nos inúmeros senões - ao invés de desvendá-los.
Não quero perguntar de você. Esta é uma pergunta que não saberei responder – só sei que sem você estou irremediavelmente só.
Nada mais doído, creio eu, do que nos sentirmos estrangeiros de nós mesmos, incapazes de traduzir a linguagem de nosso intimo. Quando me sinto assim, fujo das palavras e me refugio no reino dos sentimentos, lugar aonde impera as leis ditadas pelo coração.
Cidade dos sonhos, noite da segunda Terça-Feira de Janeiro de 2010
João Bosco