CLAMOR DE UMA CLAVE
Tal qual um violão quebrado
Por um seresteiro deixado de lado
É o teu peito que se mostra calado.
De um campo melódico que outrora se ouvia
Arpejos produzidos em cordas de alegria
Resulta tristemente silenciosa uma carcaça vã e fria.
Deixe-me tocar seu peito, amigo amado
Talvez a agonia o tenha desafinado
Ou, quem sabe, ainda seja possível
Reaver o som da vida, animado
Que, ao passar dos anos, foi suprimido e abafado
Culpa de amarguras infligidas por corações enferrujados.
Permita fluir a tessitura da alma ainda que tardia
Deste teu corpo oco, largo espaço da solidão que foi um dia,
Arranque do seu interior a inércia impassível,
É doloroso ver teu ser espelhar-se a uma triste elegia,
Venha povoar de sons o meu caminho, pauta musical vazia
E vivificar antigas canções que o tempo não permitiu registrar as melodias.
Deixe-me tocar seu peito, amado amigo
Talvez, deveras, não tenhas notado
Meu caminho traçado nos riscos do chão.
Vamos, entre linhas paralelas da estrada, vem comigo!
Depois da canção e do hino entoado
Quero ouvir teu suspiro, bela composição.
Mas se acaso tiveres que partir pra outros ares
No segundo horizonte que encontrares
Sentirá que estarei em teu coração.
Serras, planícies, rios ou mares
Seja qual for a paisagem que olhares
O sol só nascerá por trás da linha de tua mão.
Elenize
07-01-2010