Por trás da janela
Por trás da janela
Não há paisagem bela
Nada de bonito
Apenas um uivo de vento
Cantando triste no infinito
Por trás da janela é triste
Há um choro que existe
Repleto de dor
Pleno de temor
Por trás da janela vejo o cemitério
Tão solitário e cheio de mistério
Com a cerca branca a brilhar
Entre a areia quente do lugar
Por trás da janela só um pensamento
Que longe voa sedento
Tão acostumado ao sofrimento
Tão resignado nesse momento
Por trás da janela não há escolha de idade
Raça, cor, sexo, crença ou vontade
Não existe vida e nem felicidade
Soa somente uma triste saudade
Que teima em sangrar sem fim
Gotas de desespero cor de carmim
Por trás da janela existe a transitoriedade
Há a despedida da humanidade
O punhal da fatalidade
Chamando a morte para seus braços
Tirando as vidas dos seus laços
Por trás da janela há um cemitério
Nada alegre e apenas sério
Com seus contornos sombrios
Com seus ares às vezes quentes e às vezes frios
Por trás da janela surge em minha vida outro destino
A mesma música e o mesmo hino
Que muitas vezes tive que ouvir
Pai, mãe, tios, avós, sogra, amigos e primos
A todos tive que ver partir
Mas não me acostumo a esse rumo
Que a existência tende a dar a cada um
Não me acostumo de jeito nenhum
Por trás da janela
Sei que vai permanecer o cemitério
Inabalável em seu mistério
Vai permanecer a minha dor
Vai permanecer a flor
Depositada na sepultura
Com gestos de amargura e ternura
Por trás da janela
Ficará sempre a solidão
Tocando triste o coração
E por mais que eu conquiste
Um dia que seja de alegria
Permanecerá sempre a nostalgia
Dos que partiram e dos que hão de partir
Mas não me pergunte se eu quero ir
Por trás da janela
Está o destino de todos nós
Um dia escolhido a sós
Cada um vai sem pensar
Voar para o infinito
E nunca mais voltar