AUSÊNCIA TUA...


Triste solidão! Noite que insiste!
Como sinto que falta a tua Imagem
A tudo quanto para mim existe. 
Neste amor dolorido que persiste.

Quando chego á janela, vejo o inverno;
E, á luz da lua, as sombras do arvoredo
O peso das lágrimas que despejo
Lembram as sombras pálidas do Inferno,
sem ter por perto teus lábios ternos,
da tortura imposta, que se faz eterno... 

Dos recantos escuros, em segredo,
Nascem lembranças saudosas, diluídos
traços da tua Imagem, que me afoga o peito

Em gestos doloridos,
Do teu Vulto de sol a amanhecer...
A Sombra sinuosa de meus sentidos...
Meus dias faz estremecer
em sofrimentos escondidos.

Mas eu que vejo? Senão a luz a escurecer;
O imperfeito, o indeciso que, em mim deixa viver 
A amargura de olhar e de não vêr...
que fui tão sua e nunca tive você.

A voz da minha dor, gritos de minha queixa,
Em vão, por ti, na noite fria clama!
O céu e a terra, o mar em pesares se fecha
Devora em "ais" a alma antes branda.

Mas quem ama, estando no mundo
Embora no silêncio mais profundo,
Grita por seu amor: ecoa a voz que chama!

E eu grito! E encontro apenas a
tua Ausência trágica! E no fundo
de mim própria que vejo? Acaso alguém?
Só vejo a tua Ausência, a Desventura !

A tua Ausência é tudo o que murmura,
E se espraia na terra em sombra escura...
Que me invade, minha doença sem cura
Vivendo em vagos instantes
Lembranças suas, minha realidade dura
Amar-te sem te ter,querer-te e não dever
viver-te a ausência e pouco a pouco desfalecer...
doses de teu veneno que bebo silenciosa à morrer.


Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 02/01/2010
Código do texto: T2007323
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