Janela Indiscreta
Janela Indiscreta
Hoje eu não quero fazer poesia; não disponho de suficiente inspiração.
Apenas quero escrever sobre essa chuva que cai sem me falar de você.
Das grossas gotas que me parecem lágrimas, frias lágrimas sem por que.
A saudade atropela no asfalto um bêbado a entoar uma ingênua canção.
A cidade se estende lânguida, cansada de festas, ruas e praças desertas.
Pássaros se recolhem aos ninhos, aos casais. Ao longe o latido de um cão
Responde ao chamado que faço - lamentos desesperados de meu coração.
O ar gelado da noite entra com o cheiro de teu perfume por esta janela indiscreta.
Continua chovendo lá fora, enquanto aqui dentro, sozinho, me ponho a cismar:
Quem sabe amanhã eu consiga obturar a lacuna de teu sorriso prateado?
Trancar a sete chaves os meus sonhos e aguardar o momento apropriado?
Hoje eu não consigo fazer poesia. Somente este meu vazio consigo expressar.
Posso até não mais escutar a tua voz, mas me é impossível arrancar as notas de tuas falas, impregnadas na minha pele através do perfume que nela esqueceste.
Vale do Paraíba, noite do último domingo de Dezembro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)