Desejo de morte
Volúpia singela, treva e desgraças
pálida sombra que se esgueira entre as praças
Suga minha veia serena ninfa de sangue
escoe etérea e vem ser minha chaga
crava no meu punho tua mortal adaga
que serei todo noite em tua mente desvairada!
Se-de fria e queixume e mácula
como aquela singular tarde calada
em que o Sol se confundia com teus rubros lábios
e eu sonhador tocava esses dois ocasos!
Escuridão cansada e tranquila e gelada,
sopro de versos femininos e viris e profundos
Quietos na íris de um desesperado e moribundo!
Dou-lhe cravos, Mármore do mundo,
são silenciosos como uma flor deve ser,
quietas flores tão mortas que já podem ir ao túmulo...
Dou-lhe, também, violetas se quiseres
cantoras do horror e do Húmus
solidões tão amplas como teu humor soturno,
te acompanham em tuas liras vaguejantes
já que sou amargo demais para contigo soltar calmas notas,
prefiro, minha pálida, soltar estrondos dignos de pena!
Vasculhar meu âmago e meu coração sem pranto
Quem sabe ver teu reflexo e amá-lo talvez
entre a loucura e a consciência desconfiável
perecer sob e sobre a Lua num sonho afável
e acompanhar-te nesta tua estranha e cadavérica tez!