DESABAFO DE UM ANCIÃO
Só Deus sabe o quanto sofro
Esta prisão me sufoca
Trancado neste apartamento
Estou condenado à forca
Feito pássaro na gaiola
Sem poder abrir a porta
Meu neto se tranca no quarto
Não tem tempo para o avô
Está sempre ocupado
À frente do computador
Isso me deixa abatido
Sentido-me sem valor
Chega o fim de semana
Logo penso em viajar
Meu filho sai com a família
Não diz à hora de voltar
Mais um dia estou sofrendo
Aqui no mesmo lugar
Não sou daqui da cidade
Fui criado no sertão
Trabalhando no roçado
Plantando milho e feijão
Tomando a chuva do inverno
Sentindo o calor do verão
Já andei muito a cavalo
Trabalhei com boi de carro
Tantas coisas eu já fiz
Hoje fico na saudade
Minha vida na cidade
Faz-me um velho infeliz
Meus dias estão contados
Sei que logo me vou
Não fui homem de dinheiro
Nem tenho anel de doutor
Mais na minha mocidade
Tinha respeito e valor
Coloco um ponto final
Neste pequeno desabafo
De um velho que já foi criança
Hoje se vê no cansaço
Mais não me sai da lembrança
Os tempos de nervos-de-aço