Suspiro profundo
Quando eu era deprimida, eu era mais feliz.
Ou melhor, quando eu era triste
havia mais beleza.
O lirismo era doloroso,
a poesia era sempre fúnebre,
um adeus eterno
e cheio de emoção,
daqueles que se escrevem
em lápides bregas de mármore.
Mas havia melodia.
Eu sabia rimar.
Andava por aí, triste, humilhada,
juntando palavras
e me compondo como numa música.
Se era acrimoniosa viver assim,
ao menos eu me sentia alheia
e originalmente bela.
Havia mais em mim do que nos outros,
eu sabia disso, eu reconhecia.
Mas cansei, havia um limite entre minha imagem e eu.
Bati com o nariz e me quebrei junto ao espelho,
e várias falácias caíram em pequenos cacos cortantes.
De mim não sobrou nada.
Mas me sobrou o mundo com seu lirismo
enrustido em batidas de teclas,
alegrias bêbadas e tristeza em caixinha longa-vida.
A rotina pela rotina,
a compulsividade sempre forte demais.
Às vezes me apanho no descaso
com o que é cotidiano
e acabo por esquecer das pessoas
que estão sempre ao me lado
Utopias não são nem um pouco bonitas,
enjoam, não formam uma história
entre duas pessoas.
Bom... o jeito é começar do começo
sempre com um “suspiro profundo”.
E ser triste outra vez...
bhz, 14 de dezembro de 2009