Tempo de Partir

Me desculpe se eu partir sem avisar,

Se eu me for e não deixar endereço.

Porque, provavelmente, não sei onde vou chegar,

Estou pra decidir e resolvi pagar o preço.

Me desculpe se acaso eu desaparecer

E não se dê ao trabalho de me procurar,

Pois vou atrás da liberdade e, pode crer,

Ainda que eu sofra e chore, irei encontrar.

Me desculpe se não te disser adeus,

Se não te abraçar forte, pedir a benção tua,

Se eu me entregar ao vento e à Mão de Deus,

Cair no mundo e caminhar ainda sob a lua.

Me desculpe se eu partir com a roupa do corpo e só,

Apenas com uma mão na frente e outra atrás.

Mas não se preocupe que eu me arranjo, tenha dó.

Já posso correr atrás da minha própria paz.

Me desculpe a desobediência e a dor

Que, certamente, te deixaram muito triste.

Deixarei contigo um pouco do meu amor

E levarei comigo o teu pouco, que ainda existe.

Me desculpe se eu partir às pressas,

Como se eu fosse um fugitivo qualquer.

Mas é que a saudade é coisa dessas

Que acompanha quem a menos quer.

Me desculpe se um dia eu for sem receio,

Se a meio caminho eu não me virar;

Não se importe se acaso eu não pisar no freio

Pra te olhar de novo e acenar.

Me desculpe se eu me tornar muito frio,

A ponto de não pedir um último beijo.

Se eu te deixar no apartamento vazio,

Me desculpe. Ninguém tem culpa ou controle do próprio desejo.

Me desculpe se te assusto com essa possibilidade,

Mas quando não há saída eu penso no que eu queria

E eu me canso fácil da vida dessa cidade

E penso em outro lugar, outra vida, como seria?

Me desculpe se demonstro imaturidade, ingratidão.

Mas é justamente asism que me sinto agora.

Me desculpe por não ponderar, há muita coisa em meu coração

E percebo que esse é mesmo o tempo de ir embora.

William G. Sampaio [23/11/09]