Certezas incertas

Tenho tanta certeza

De minhas incertezas

E, não a abomino.

Ao revés, me deixam a esperança

Do inesperado, do inusitado

Da surpresa feliz...

Esse dejà-vu

Enlouquecedor.

Esse script marcado e ditado por bocas

alheias

A nos dar falas tão manjadas e esperadas

É o revés da esperança

É a desesperança embalando o berço da morte.

A respirar ofegante por uma rampa íngreme

Que no fim,

Vai dar em nada...

Em horizonte partido

Em reticências sem sentido

Em ausências feitas de gases e fel.

Quero ter todas as poéticas incertezas

Amanhã,

Daqui há pouco

Daqui há uma hora

Daqui para além

Além mar,

Além Tejo

Além gitanos e germanos.

Além raças, etnias ou tribos.

Somos todos iguais na noite escura

Pranteada por estrelas e lua.

Pranteada pelo universo oculto do céu escuro.

Somos todos iguais em nossa agonia

E ignorância

Em nossa trivial má-vontade

A marcar ponto e

a sorrir pontualmente as cinco da tarde.

Somos todos iguais e inúteis

Pois passaremos,

Pois se apagarão nossos passos,

Pois se esquecerão de nosso aniversário.

Pois nos abortarão em vida...

Ainda que nos deixe a vida

como castigo e tortura.

Cultuamos com hábitos similares

Todos os fatos:

Morte, nascimento, casamento e intrigas.

Cultuamos deuses, profetas, pastores e espíritos.

Caçamos literalmente deus em livros,

Pedras e em flores...

No benjoim a envolver o templo

Em mistério e renúncia.

Ninguém nos tira a humanidade tão igual

E dispare...

Na estrada tormentosa que é o destino.

Ninguém nos tira o olhar esse sentido

Da tristeza e de abandono...

Há almas que vivem sem corpos.

Existem corpos que vivem sem alma.

Sem sentir, sem perceber

Que a palavra fere.

Que o olhar estilhaça.

Que o gesto esmaga.

E, o pensamento decapita

Mais rápido que um raio,

Mais destruidor que uma bomba

Mais devastador que a tortura.

Mais ainda vivente nos destroços

Resta-nos alguma humanidade

em vestígios indeléveis

em perdões simbólicos

Em cortinas invisíveis

perante nossos olhos.

A tripudiar a visão e solidão

Com a ilusão de um oásis

rico em água e esperança.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/11/2009
Reeditado em 23/02/2010
Código do texto: T1951589
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