Duas vezes perdedor
Duas vezes perdedor, nerd e escritor:
De uma parte, nunca respeito obterei;
De outra, nunca grana ganharei.
Mas aqui, rodeado de tesouros e amigos
Verdadeiros, Petrarca e Shakespeare-
Folgo com andanças em que a Fortuna me sorri;
Minha amante é minha calculadora
Científica, e minha musa é fiel, embora eu
Não saiba que ela está noiva de um filho
De família rica que diz sempre “tipo assim”.
Para mim são o mesmo:
Poemas e teoremas.
A amizade dos livros que lá estão para te consolar
Depois de uma nova decepção, iguala-se ao prazer
Que dá umas equações resolver.
No trabalho busco a Laura de meus sonhos...
Em casa ao retornar me penso, diante do espelho,
Húmile e tacanho.
Ao menos invisto em algo menos vago que noitadas,
Relações de curto prazo profundas como uma película d’água...
E não me sinto vigiado a todo instante pelas câmeras da mediocridade.
Eu me conecto a uma realidade sutil, que expande
Minha percepção sem me tornar um adicto-
Sou solitário, sim, mas sem isso não seria quem sou,
Bem ou mal, nerd e escritor.