Gritos entre grinaldas...
Tão grandes sonhos, eternos, juvenis
agora pisados, crivados de espinhos hostis
tamanha espera, d'aurora dos ventos
num asco e se finda, nasce meu tormento...
Quisera eu ser a santa alada
intocável e donzela
rosa, ainda desejada
em meu espelho manchado, Deméter perfumada...
Livrar-me, pura, dos grilhões amargos
qual estrela nua num céu de pecados
e estancar o sangue desta esponsal profana
ou morrer de amargura nesta aliança tirana...
Vem Deus, ouve meu clamor, meu grito
e livra-me o corpo e a alma deste fel maldito
se na mísera regra desta herança clássica
já não posso despir-me, rasgar estas amarras...
Vem Grandioso e Alto, trazer-me o véu da bonança
a branda e alva chave da esperança
lava e expurga-me inteira e casta
destas horas de mentiras e imundas desgraças...
E como lua num céu turvo, nublado
limpa e segrega-me deste pobre fardo
enxuga-me, cintilante, num sopro poente
adorna-me com jasmins e estrelas cadentes...
Que o olor deste desejo, tão somente
embriague-me de amor sereno
não deste amor impuro e negro
que eu guardo e trago qual rútilo veneno...
Se distante encontrar meu pranto de dor
não tardes, não ignores meus versos, Senhor
se deste veneno bebo e putrefo meus sonhos
neles hei de morrer, hão de ser meus danos...
Mas devoto está, aos Teus pés, o meu pranto
tão imensos e etéreos orvalhos de engano
da jovem pretérita, limpa e exila
todos os medos, segredos e as horas escritas...
Abençoa a esmo meus sonhos guardados
e aqueça-os no fogo do triunfo sagrado
quebranta as correntes e o negro passado
adorna entre flores o meu peito, ainda, imaculado...
Da devassidão da núpcia irremediada
destas falsas comunas armadas
livra-me e bendiga todas minhas lágrimas
faz-me única vez na vida uma mulher amada!