Trocando em miúdos
Trocando em miúdos
I
Volvo o olhar pro meu passado, vejo em nosso quintal, bem carregado, meu belo pé de limão
Com folhas de um verde carnudo, havia um pé de andu e uma frondosa laranjeira.
Repleta de frutos amarelos e, cercando tudo, bem postada, altaneira - a minha parceira.
Companheira de minhas tristezas, a segurança a me proteger da aterradora escuridão.
II
Sim! É ela. A cerca. Na qual sempre busquei apoio quando mais nenhum outro havia.
Quando até debaixo da cama não mais podia ficar, pois tamanho medo me afligia.
Eu e a minha cerca ficávamos a conversar por horas; pacientemente ela me ouvia.
Com ela sentia-me seguro, protegido contra os horrores do mundo adulto. Ela – a cerca – somente ela me entendia.
III
Hoje, no presente - essa etapa estranha do passado - corro prá minha amiga em busca de compreensão.
Pois percebo que aqui, neste presente – um futuro antecipado - muitos querem receber; todavia poucos dão.
- Não fuja da raia, camarada! Liberdade é utopia. Não faça tanta arrelia – se acomode a situação.
IV
É o que me diz Malaquias, guardião juramentado, prá que nada dê errado neste mundão sem porteira.
Fico assim a matutar: o que faz a ratatuia, quando pega mala e cuia, pica a mula sem demora, atrás de outra bandeira.
Não tem acordo, Sinhá! Quando se prova de Liberdade, aprende-se a grande Verdade - Amor é uma via de duas mãos.
Quando eu sentia sede, e me encontrava nadando no rio Gongogi, minha segunda casa, mergulhava bem fundo para beber água, que sabia muito mais limpa, livre das impurezas da superfície.
Vale do Paraíba, Quarta-Feira, Dezembro de 2008
João Bosco (Aprendiz de poeta)