Eu vou olhar o calendário
Como quem olha a própria vida acabar
E marcar uma data para não existir
Cansei dessa festa de viver
Essa farra de não ser pessoa
Essa birra de não ser ninguém
Quero não crescer, esquece
Quero adormecer no silêncio
Longe de todas as conjecturas
Que me sintetizam tanto
Que me definem tudo
E que não explicam nada
Nunca estou bêbado o suficiente
Para ser assim tão sábio
E nunca sábio o suficiente para esquecer
Que essa vida que não quero viver
De todo modo acaba sem eu querer
E não sou eu que vou sorrir
Obrigatoriamente
Nessa festa indesculpável de viver
E viver é sempre o que eu nunca sei o que vai ser
O que vai ser eu sei que há de me consumir
No meio de todas as vozes numa babel
E que confundem em mim
Tudo o que de mim eu nunca quis ouvir
Talvez não falarem nada de mim
Não me verem e nem me sentirem
Ou não entenderem essa falta de festa
Dentro de mim essa solidão
Da casa desarrumada
Esse silêncio de crianças que cresceram
Essa solidão do pó nos móveis velhos
Esse deserto de pessoas que morreram
Velhas como os móveis e a árvore no quintal
Esse fechar de portas para sempre
Como se eu não tivesse para onde ir
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/10/2009
Reeditado em 06/09/2021
Código do texto: T1882050
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