Despedida
É como numa separação
Na entrada um oi mudo
com lábios cerrados
que se recusam a abrir-se
Então a maior distância é entre os cômodos,
cada um no seu espaço, enquanto fingem
que não se falam que não se conhecem.
E você pega cada objeto como se furtasse,
roubasse o que é seu, tomasse as lembranças.
Enquanto guarda tudo que compartilhou
Dividi seu tempo entre o pensamento
A última arrumação da casa
A última olhada do quarto
A última despedida sem palavras
Mesmo sabendo que tudo aquilo
Te corta fazendo-o sangrar em lágrimas
Não se permite derramar nenhuma delas.
E tudo vai se amontoando na mala,
cabendo tudo aquilo em tão pouco espaço
indo de contra ao que mal cabe em nós.
Um tempo que se arrasta quase morto
A mente parece te culpar pelo ocorrido
E você vai memorizando tudo
O último olhar, o último cheiro
O último sorriso que nessa cena não se fez.
Ao fim dessa tortura, tentamos
quase que sem sucesso, ser ao menos sociáveis
Trocam-se exatamente três palavras
Querendo inundar-se de argumentos
E você se vai, engasgando a despedida,
envergonhando toda e qualquer atitude,
fechando a porta, deixando o outro pra trás
e nada mais resta, apenas a despedida.
Tudo está acabado, e em nós?
Aquilo que não dissemos, que não mostramos.
Engolindo a seco o amargo de ir embora
e a dor de saber que não há mais volta.