perdeu

Perdeu

Você perdeu,

se perdeu

Percorreu todos os labirintos

Percorreu reto os abismos verticais

Deitou no infinito e se sentiu um deus

e ao mesmo tempo, um mendigo

A implorar afeto e atenção.

Tatuou na pele preces e

gritos que clamam por socorro

e diante de plena agonia

O infinito ficou pequeno

para tanta dor.

No cais existem enterradas muitas despedidas,

últimas palavras, últimos gestos e

aquele maldito olhar

A cravar a dor no mundo feito punhal cigano.

A dançar por entre moedas e trocas

A cambalear por cima do fio da navalha.

Não existe mais o muro de Berlim.

Não existe mais o holocausto.

Mas somos o que sobrou dessa história.

Somos frutos da crueldade e dos deuses

em que acreditamos...

Você perdeu,

Se perdeu diante de meus olhos

E nada pude fazer...

Meus braços estavam atados

E presos na alma laboriosa

De se esforçar em construir presente,

Presente...

E aquilo tudo ficou passado,

Putrefato

Restou distante na curva

da estrada

Caído de caminhão de mudança.

Ficou azul cianótico

Sem oxigênio

Ficou em tons de ardósia

E, foi morrendo lentamente

Cada dia mais, e insistentemente

Até que a última gota

vertida

foi uma ácida lágrima

A escorrer pelo rosto a decepção

de se perder.

Perder e perder...

Agora entendo o jargão dos larápios

Perdeu, perdeu.. perdeu!

Se corrompeu, se desintegrou...

O que fui para você,

O que você foi para mim

O que fomos nós, para nossa estória

O que fomos e continuaremos a ser

Pois a eternidade secreta dos momentos

Está ali e aqui

E , continua em toda parte...

Nos objetos, nos gestos e no silêncio

da lua branca que espera o amanhecer

pacientemente.

E, pior, em vão.

Vc se perdeu sem consciência

E nem ciência...

Há uma técnica boa de ruptura

É a abrupta cisão

Silenciosa e monstruosa

A cortar artérias, lóbulos, línguas e

matam as palavras que

secam os afetos e

segregam gente por ser gente apenas...

E, não serem objetos de guardar...

Guardo no peito essa perda

A perda de ter me lançado ao cais

Na certeza do caus e

na indiferença do vento.

Bons ventos que venham...

Preciso perder prosseguindo

até a perda final.

O púlpito impronunciável de

feitos heróicos e bastardos...

Até a eternidade possível da

vida humana.

Perdeu.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/10/2009
Reeditado em 30/11/2009
Código do texto: T1876632
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