Era noite

Era noite

Era noite vil... [sem lua!]

A esmo, de rua após rua

Vagava na escuridão

Uma pobre alma... alma jovem,

Dessas que evitam, que fogem

Das dores do coração!

Era noite vil... [chovia!]

A chuva era ‘stéril... fria!

Caía vasta do céu

De modo assaz melancólico,

Similar ao alcoólico

Que a vagante alma bebeu.

Era a noite um labirinto

Do qual não pode o absinto

Preencher tão amplo vazio

Do desprazer e do pranto,

Nem cobrir c’o verde manto

O terror que o colidiu.

Era já noite profunda,

A alma – toda moribunda!

Quis na ponte esvanecer

Sobre o Rio Enamorado

De leito ‘scuro, agitado,

Crítico ao seu bel-prazer.

Era uma noite tristonha

[Demasiado medonha...]

Sem nenhum lume no céu.

Inconsolada... em decúbito...

A plangente alma – de súbito

N’água atirou rosa e anel!

Era noite vil... [sagaz!]

De tempestade vivaz

Que anel e rosa engoliu.

Da ponte, a desventurada

Alma – de branco trajada!

Precipitou-se p’r’o rio.

Jack Fernandez
Enviado por Jack Fernandez em 17/10/2009
Código do texto: T1870974