Era noite
Era noite
Era noite vil... [sem lua!]
A esmo, de rua após rua
Vagava na escuridão
Uma pobre alma... alma jovem,
Dessas que evitam, que fogem
Das dores do coração!
Era noite vil... [chovia!]
A chuva era ‘stéril... fria!
Caía vasta do céu
De modo assaz melancólico,
Similar ao alcoólico
Que a vagante alma bebeu.
Era a noite um labirinto
Do qual não pode o absinto
Preencher tão amplo vazio
Do desprazer e do pranto,
Nem cobrir c’o verde manto
O terror que o colidiu.
Era já noite profunda,
A alma – toda moribunda!
Quis na ponte esvanecer
Sobre o Rio Enamorado
De leito ‘scuro, agitado,
Crítico ao seu bel-prazer.
Era uma noite tristonha
[Demasiado medonha...]
Sem nenhum lume no céu.
Inconsolada... em decúbito...
A plangente alma – de súbito
N’água atirou rosa e anel!
Era noite vil... [sagaz!]
De tempestade vivaz
Que anel e rosa engoliu.
Da ponte, a desventurada
Alma – de branco trajada!
Precipitou-se p’r’o rio.