COLEÇÃO DE LAMÚRIOS
Sou um homem feito
E não queria sê-lo.
Não tenho juízo perfeito
E nem quero tê-lo.
Amei e não fui amado.
Murcharam minhas flores,
A noite caiu e o dia nunca mais veio.
O mundo me bate sem dó,
Como feitor açoitando o negro no tronco.
Os anéis sempre vão.
Os dedos sempre ficam.
Novos anéis, novas despedidas,
Novas ilusões. Tristezas antigas.
Meu exílio é voluntário,
No início não queria assim,
Mas os necrológios que me deram
E que eu não queria
Fizeram-me solidão e assim me acostumei.
A antecipação da separação
É pior do que a própria separação.
Sentir que se esvai por entre os dedos; é triste.
Melhor que abra a mão de uma vez só.
Não doeria tanto.
A retina que chora poeira
(não por opção, mas por falta de lágrima),
É a mesma retina
Que fita uma esperança morta, tardia.
E mesmo assim a contempla amorosamente.
A esperança que é a última a morrer,
Foi a primeira que deixou o meu convívio.
Não gosto de ter esperança.
A esperança é a maior culpada
Do choro empoeirado de todos os que amam.
Amei e não fui amado,
Fui amado e não amei.
Amei sem querer amar,
E ainda tenho muito amor pra dar.
Amarei novamente, e mais e mais e mais e mais e mais e...
E assim será, até que finalmente eu retorne ao pó.