COLEÇÃO DE LAMÚRIOS

Sou um homem feito

E não queria sê-lo.

Não tenho juízo perfeito

E nem quero tê-lo.

Amei e não fui amado.

Murcharam minhas flores,

A noite caiu e o dia nunca mais veio.

O mundo me bate sem dó,

Como feitor açoitando o negro no tronco.

Os anéis sempre vão.

Os dedos sempre ficam.

Novos anéis, novas despedidas,

Novas ilusões. Tristezas antigas.

Meu exílio é voluntário,

No início não queria assim,

Mas os necrológios que me deram

E que eu não queria

Fizeram-me solidão e assim me acostumei.

A antecipação da separação

É pior do que a própria separação.

Sentir que se esvai por entre os dedos; é triste.

Melhor que abra a mão de uma vez só.

Não doeria tanto.

A retina que chora poeira

(não por opção, mas por falta de lágrima),

É a mesma retina

Que fita uma esperança morta, tardia.

E mesmo assim a contempla amorosamente.

A esperança que é a última a morrer,

Foi a primeira que deixou o meu convívio.

Não gosto de ter esperança.

A esperança é a maior culpada

Do choro empoeirado de todos os que amam.

Amei e não fui amado,

Fui amado e não amei.

Amei sem querer amar,

E ainda tenho muito amor pra dar.

Amarei novamente, e mais e mais e mais e mais e mais e...

E assim será, até que finalmente eu retorne ao pó.

Renann Calazans
Enviado por Renann Calazans em 16/10/2009
Reeditado em 27/04/2016
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