Latente
A mariposa turbeculosa pousa
sobre a flor desmaiada
A primavera rangia lá fora
No mar de pólens e de mistura potencial
Insetos, silêncios e mágoas
Corrompiam a higiene local.
No chão a presença de formigas
Dava uma certa dinâmica aos passos e
a análise incrustrada na pedra
O pião de minha infãncia
Riscava aos meus pés
o abismo dos afetos perdidos
Rostos nunca mais vistos,
lembranças corroídas por traças e
ressentimentos
A mão num aceno final
O gesto numa agonia letal
A lágrima ácida a se abrigar no canto da boca
A palavra embargada na garganta
Balbuciando a emoção abortada.
Lá fora e aqui dentro
Havia uma cisão e coalisão
O tempo todo
Ora era reflexão, ora era dissolução
Ora era elo, ora era chibata
Ora era encontro, ora era acaso.
Na dor esculpida na face
Havia o debrun do envelhecimento
Rugas
Expressões dobradas cuidadosamente
Procurando arrumar-se cegamente
Significados tardios
No olhar o brilho arranhado
Do tempo passando
Do vento uivando
A dispersar folhas velhas
Eu passarei
Eu dispersarei minha essência
Nos detalhes do tempo
O que restará de mim
Em minhas retinas mentais?
Na ilusão esquálida de
Se repetir novamente amanhã?
Não há respostas.
Só há inquietações
E são elas que me deixam viva
Que me deixam latente.
Latente.