Latente

A mariposa turbeculosa pousa

sobre a flor desmaiada

A primavera rangia lá fora

No mar de pólens e de mistura potencial

Insetos, silêncios e mágoas

Corrompiam a higiene local.

No chão a presença de formigas

Dava uma certa dinâmica aos passos e

a análise incrustrada na pedra

O pião de minha infãncia

Riscava aos meus pés

o abismo dos afetos perdidos

Rostos nunca mais vistos,

lembranças corroídas por traças e

ressentimentos

A mão num aceno final

O gesto numa agonia letal

A lágrima ácida a se abrigar no canto da boca

A palavra embargada na garganta

Balbuciando a emoção abortada.

Lá fora e aqui dentro

Havia uma cisão e coalisão

O tempo todo

Ora era reflexão, ora era dissolução

Ora era elo, ora era chibata

Ora era encontro, ora era acaso.

Na dor esculpida na face

Havia o debrun do envelhecimento

Rugas

Expressões dobradas cuidadosamente

Procurando arrumar-se cegamente

Significados tardios

No olhar o brilho arranhado

Do tempo passando

Do vento uivando

A dispersar folhas velhas

Eu passarei

Eu dispersarei minha essência

Nos detalhes do tempo

O que restará de mim

Em minhas retinas mentais?

Na ilusão esquálida de

Se repetir novamente amanhã?

Não há respostas.

Só há inquietações

E são elas que me deixam viva

Que me deixam latente.

Latente.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/10/2009
Código do texto: T1859705
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.