A DOR QUE GRITA!
'Torva Babel das lágrimas, dos gritos,'
Soltos em lábios carnudos e polpudos
'Dos soluços, dos ais, dos longos brados,'
Sustentados pelas lamúrias das estradas
'A Dor galgou os mundos ignorados,'
Subiu as ladeiras, montanhas e telhados
'Os mais remotos vagos infinitos'
Com seu incontido estampido maldito
'Lembrando as religiões, lembrando os ritos,'
Profanações travestidas de devoções e mitos
'Avassalara os povos condenados,'
Pelo reinado da nobreza interessada
'Pela treva, no horror, desesperados,'
Da doença a matar todos sem piedade
'Na convulsão de Tântalos aflitos.'
Sangue explodindo pelos ouvidos
'Por buzinas e trompas assoprando'
Ensurdecendo tímpanos e entranhas
'As gerações vão todas proclamando'
Que melhor seria todos estar amando
'A grande Dor aos frígidos espaços...'
Margeiam lábios, bocas, coxas, traços
'E assim parecem, pelos tempos mudos,'
Que o silêncio é complacente e surdo
'Raças de Prometeus titânios, rudos,'
Vingai com tua coragem viril e flórida
'Brutos e colossais, torcendo os braços!'
Que então se ouça o choro e o soluço.
Antes que tudo pereça no fundo do poço.
Dueto: João da Cruz e Sousa, Poesia Completa & Hildebrando Menezes
Adaptado do poema original ‘DOR...’ de Cruz e Sousa com os versos de Cruz e Sousa em aspas.