A DOR QUE GRITA!

'Torva Babel das lágrimas, dos gritos,'

Soltos em lábios carnudos e polpudos

'Dos soluços, dos ais, dos longos brados,'

Sustentados pelas lamúrias das estradas

'A Dor galgou os mundos ignorados,'

Subiu as ladeiras, montanhas e telhados

'Os mais remotos vagos infinitos'

Com seu incontido estampido maldito

'Lembrando as religiões, lembrando os ritos,'

Profanações travestidas de devoções e mitos

'Avassalara os povos condenados,'

Pelo reinado da nobreza interessada

'Pela treva, no horror, desesperados,'

Da doença a matar todos sem piedade

'Na convulsão de Tântalos aflitos.'

Sangue explodindo pelos ouvidos

'Por buzinas e trompas assoprando'

Ensurdecendo tímpanos e entranhas

'As gerações vão todas proclamando'

Que melhor seria todos estar amando

'A grande Dor aos frígidos espaços...'

Margeiam lábios, bocas, coxas, traços

'E assim parecem, pelos tempos mudos,'

Que o silêncio é complacente e surdo

'Raças de Prometeus titânios, rudos,'

Vingai com tua coragem viril e flórida

'Brutos e colossais, torcendo os braços!'

Que então se ouça o choro e o soluço.

Antes que tudo pereça no fundo do poço.

Dueto: João da Cruz e Sousa, Poesia Completa & Hildebrando Menezes

Adaptado do poema original ‘DOR...’ de Cruz e Sousa com os versos de Cruz e Sousa em aspas.

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 09/10/2009
Reeditado em 10/10/2009
Código do texto: T1857792