Maiakóvski
A blusa amarela de entardecer
que Maiakóvski quis fazer
pouco serviu para esconder
a vergonha de não ser.
De pouco serviu para cobrir
a nudez que se ousou não proibir.
Em nada agasalhou o sonho irrealizado
e por isso só somos o nobre gado de Mercado,
de andar aflito e couro queimado.
Gado e Homem marcado.
Por culpa de qual pecado?
A tortura me deixou eternizada
a Utopia atropelada,
enquanto o espelho só me devolve o Nada.
Onde paramos?
Onde estamos?
Que terra é essa companheiro?
Que mar é esse marinheiro?
Que Brasil é esse, brasileiro?
Brasil de braseiro,
daqueles que se sonhou por inteiro.
Lar de que não se esquece o cheiro.
Cheiro de rosas e de anoitecer.
Qual o amarelo que Maiakósvki quis tecer.
Mas agora tudo se foi moça bonita.
Talvez essa História nem seja escrita.
E no alto de cada palafita,
de trágicos olhos rolarão lágrimas aflitas.
E o entardecer de Maiakóvski sucumbirá
qual a Guerrilha no Pará.
Eu sei. Estive lá.
Dedicado a Thyago, que resgata Maiakóvsky