Primavera fúnebre
Vibram as folhas róseas
em movimento sensual
na sapucaia.
O aroma do cravo
reduz as sensações em uma,
o odor da morte se esvai.
A sirene na rua
grita agudo a sua dor.
Sorrateiro o tico-tico
engole o verme.
As gotas refletem
a ave e o verme.
O âmbar, cápsula
imortal do passado
aprisiona, mata
vetusca abelha.
A morte se empanturra
da carcaça.
O tempo dissolve a saudade
resta saber; como e onde
vou ser enterrado?
A vida fossilizada
soluça na boca
dos amigos.
Os bens divididos.
Subtraídos?!
As palavras roem a pedra
destilam ódio, secam o amor.
O defunto jaz esquecido!