VELHO
A neve de teus cabelos, meu velho
Mostram o efeito que a geada dos anos causou em ti
Hoje esquecido no fundo de um asilo
És o próprio arquivo da vida dos homens
E, justamente por isso te negam guarida
Vêem em teu semblante enrugado o sulco da idade avançada
Um fardo pesado a ser carregado
Sobre os ombros dos novos que te renegam
Em um canto relembra estórias
Experiências vividas e sofridas
Desvalido e decrépito
Babando esc1erosado, falando frases sem nexo
Servindo de riso para muitos
Pedindo esmolas e restos
Teus filhos, teus parentes, são teus juizes
Não te querem!
E quem não aceita, esquece na memória
a raiz da qual somos frutos
Mas, não adianta
Vais morrer esquecido em um beco qualquer
Maltrapilho e com frio
Isto se não tiveres o luxo de padecer
nos corredores de espera da previdência
Depois, ao partir desta para a melhor
Óbvio, uma vida assim nem cachorro a quererá
No teu leito definitivo onde descansarás em paz
Sentirás todo cinismo e hipocrisia
Que teus algozes demonstrarão
através de lágrimas artificiais e de alívio
Sorrias, agora estás vivendo!