Mantra de Luz

Busco meu ser em mim mesmo; encontro-o embalado nos gélidos braços conspurcados de Jocasta, oculto na madrasta escuridão.

Uma visão aterradora, dessas de pesadelos sem fim, tidos em tormentosas noites, nas quais o sono se recusa a chegar.

Meu anjo guardião, momentaneamente impotente, prostra-se resignado, o olhar voltado para a roda da vida em seu contínuo girar.

Ele sabe, anjo experiente; os ciclos se alternam, numa eternal espiral ascendente, em que as quedas são apenas aparentes, frutos de mera Ilusão.

-Não há o que temer! Balbucio de modo débil, em um fervor infantil. Contrito, recito um mantra para meu frágil Ser.

Nas frases lentas do mantra as cores vão se alternando: aparece o verde saudável, junto ao vermelho da vida, o meu azul alegrando.

Reúnem-se todos no branco, o mantra segue, prenhe de sons amenos, suaves, minhas prédicas transportando.

Os deuses no firmamento, aos quais meu mantra é entregue, castigam com Luz a madrasta, Luz que Jocasta cega - e me faz, Édipo liberto, renascer.

Nós humanos, seres racionais, agimos impensadamente, nos agitando freneticamente, quando nos sentimos feridos. Já os animais, irracionais que são, quando feridos buscam uma toca para se proteger, esperando calmamente que a dor do ferimento se cure e ele possa voltar a viver com plenitude a sua liberdade.

Vale do Paraíba, noite da primeira Quarta-Feira de Abril de 2009

João Bosco