PARA NÃO ESQUECER

E se gritarem,
Se baterem,
As mãos na mesa,
Se te oferecerem,
A indelicadeza,
E se te elogiarem,
Com inúmeros palavrões,
Se te derem,
Alguns safanões,
E se jogarem,
O seu corpo no chão,
Sutilmente pisarem,
Na sua cabeça,
Ainda que anoiteça,
E a escuridão,
Te apavore,
Não, não chore!
Não diga nada,
Nobre camarada,
Eles não merecem,
O fluir do seu português,
E se te fizerem,
Sofrer uma dor filha da puta,
E cansarem,
Da sua resistente conduta,
E por fim te silenciarem,
No sereno da madrugada,
Quem sabe,
Sua alma acabe,
Sendo recompensada,
Pelo gesto de bravura,
(Ou de loucura),
Que você fez,
Atinja o plano sensório,
E além do purgatório,
Possa descansar,
E se você não suportar,
A angústia do ser,
A sombra da tortura,
Seu intenso efeito,
E resolver confessar,
Tem todo o direito,
Mas, sinto em te informar,
Vai desaparecer,
Do mesmo jeito.