Que mundo é esse?

O mendigo da minha rua faz do canto a sua casa.

O canto da rua, o canto da esquina, o canto do nada.

O cachorro, seu mascote,

segue pela mesma estrada

estrada da vida, sem rumo e medida,

estrada perdida, fedida, bandida,

estrada vazia

pelada

As pessoas da minha rua,

cada qual toma seu rumo,

cada qual tem sua vida,

e cada vida atrapalhada....

A criança da minha rua

não sabe o que é ser amada

não tem seus parentes por perto

Não costuma ser abraçada

Não tem seus amigos de rua

Nem sai pra brincar na calçada

Não sabe o que é pipa, o que é bola

E já está acostumada

Não joga bola de gude,

Não olha o céu estrelado,

Não vê as nuvens passando

Não conhece a madrugada

Os jovens da minha rua

Não conhecem aconchego

São rebeldes, sentem medo

Se embebedam em segredo

A minha rua inteira,

é uma rua perdida

Ninguém se cumprimenta

Ninguém sabe o que é a vida

O momento do meu planeta

É assim como eu lhe digo

Não há olhos para o verde

E nem olhos para o mendigo

Não há tempo para o amor

Nem tempo para o amigo

Tudo move acelerado

Cada qual no seu quadrado

Vejo um povo atrapalhado

perdido, isolado, estressado

Fico assim me perguntando

se isso tudo vai mudar

se as pessoas vão se ver,

e voltar a se falar

Se vão voltar a se ouvir,

Voltar a compartilhar

Se vão cuidar do planeta

e voltar a se cuidar.