Sobre a tristeza
Eu não tenho, nestes dias, recebido a tristeza.
Não obstante a sua incessante tentativa de dominar-me,
Sigo indiferente meu viver, contra toda a evidência
Que possa trazê-la tão perto a perturbar-me.
Não digo, é verdade, que tenho evitado falar
Sobre minha amada que se foi tão cedo,
Deixando-me a lamentar nossas quase vidas
Das quais nada sobrou a não ser solidão.
Não faço concessão à saudade sentada na sala
A questionar-me da minha quietude justa.
Tampouco saio a passeio pelo jardim
Para que os conhecidos não perguntem de nós.
E sentado recluso com meus pensamentos
Não deixo de conceber que isso é inútil.
Não há tempo e sequer fingimento
Que possa afastar o meu sofrimento.