Sua morte em mim

O olhar perdido na negritude fria da noite

Procura-o em meio à chuva ruidosa e fina

No pátio de pedras, o silêncio brutal em açoite

Da janela, sorvo o ar impregnado de dor

O ar gelado penetra contaminado pela janela

Distante, algures, acordes de um violão errante

No auge do insano desejo, pensei sentir a morte

Quero transfigurá-la, superar o óbvio das retinas

Mas é noite, e vagueias pelo breu das frias horas

Em minhas recordações, que em ti fixam a face

E extraem do imponderável as tentativas vãs

De recriar o teu sorriso...

E é assim, no silêncio barulhento das minhas dores

Que minh'alma em conflitos imerge sombria

E descansa no desespero infinito

Da sua ausência abismal...

E quando o corpo exausto cede ao sono

E o choro solitário e inútil seca de esperar

Percebo que não virás mais...

O impossível toque da sua mão lateja ainda

Busco no absurdo das palavras o alento

E faço minha morada no tempo de ontem

Os passos distraídos que te buscam pelos dias

Alcançam a triste certeza de que és saudade

E em meio a esse eclipse definitivo, somes