Teu Beijo
Havia um tempo em que teu beijo me fazia viajar, me tirava o fôlego, me fazia romper as barreiras do tempo e do espaço numa viagem sem limites. Era visível a cumplicidade em nossas línguas; e elas se entendiam como que num passe de mágica. Sentíamos a fusão de nossas almas e corpos... da nossa pele. “um só corpo e uma só alma”. Mergulhávamos em nossas bocas, como quem entra um no outro; nos engolindo mutuamente, e passeássemos em nossos vasos sanguíneos , percorrendo todo o corpo.
Hoje, nossas línguas se distanciam e parecem revoltadas; espada afiada num eterno duelo de palavras. Nossas bocas divergem e se distanciam numa ruptura brusca do que antes parecia eterno, amputando parte vital de m’alma. E por fim, nossa saliva ressecada formando um imenso tapete áspero, com uma legível placa, de bordas douradas, com os dizeres: “aqui jaz um beijo de amor. Descanse e paz!”. Beijo que, hoje, traduz o fracasso em que nos tornamos por comodidade e por medo. Agora em segredo, e separados, nossos lábios apenas murmuram som de desassossego. Uma imagem do grande túmulo vazio que se tronaram os nossos lábios.